dakele jeito

Vejo você mesmo que em uma foto pelo PC e a mesma coisa acontece, o mesmo tremor nas mãos.
Cada dia eu prometo que vai ser diferente, que eu vou juntar toda coragem que eu nem tenho e vou falar com você. Penso em todos os jeitos de começar uma conversa, desde os mais idiotas até coisas que nem eu acredito que fui eu mesmo quem pensou. Penso em coisas, como dar flores a você e dizer que elas passam vergonha ao seu lado, mas você poderia rir e me achar antigo ou tolo. Penso que eu poderia fazer alguma coisa dramática, ser atropelado na sua frente, sei lá, e talvez assim a gente começasse a conversar e ficasse se conhecendo melhor. Penso em lhe dizer que hoje está uma manhã linda, e que eu adoraria caminhar com você ate o seu colégio, que talvez a gente pudesse só conversar, sei lá, falar do tempo, falar do ultimo disco da sua banda preferida que eu só compraria pra imaginar você ouvindo.
Mas eu sei que não vou conseguir, porque eu sou tímido demais, porque eu vejo você saindo com alguns garotos depois da aula, e eles sempre são do tipo que fazem esportes, que jogam no time da cidade, ou sei lá. Eu sou muito diferente deles e acho que não ia fazer nenhum sucesso com você ou sua amigas. Será que algum deles já escutou Engenheiros Do Hawaii? Ou Belchior? Algum deles já leu Fernando Pessoa? Você já leu Sylvia Plath? Será que eu poderia ler um deles pra você, ou você acharia isso tolo?
Você é uma rainha pra mim, e eu fui me apaixonar justo por você, que saiu de um relacionamento sério agora, um relacionamento em que eu sei que você se machucou e ainda não esta totalmente cicatrizada. Eu devia ter olhado para o outro lado, para alguém que me olhasse, mas alguma coisa aconteceu e eu fiquei assim.
Lá em casa minha mãe me olha e fica preocupada. Pensa em por que eu ando perdendo peso, pensa que eu posso estar usando drogas pesadas, sei lá o que mais pensa, só não pensa o óbvio, que eu vi essa garota e desde que isso aconteceu, só consigo pensar nela, olhar pra ela e nada mais.
Acho que isso não é coisa pro nosso tempo, é coisa para aqueles poetas antigos, que ficavam sofrendo e pegavam tuberculose e morriam de amor, hoje as pessoas sofrem um pouco, mas entram na primeira lanchonete e, quando saem, já não sentem nada. Só que eu não sou assim.
Você passa e segue com o seu jeito de caminhar. Você não olha para o lado, não vê ninguém. Mesmo que eu seguisse você de pero, você não veria, fiz fotos de você, pra poder olhar em casa. Coloquei todas na parede, e fico sonhando.
Nunca cheguei perto para ver seus olhos, não sei se eles são azuis, verdes, pretos ou qualquer outra cor. Pra mim tanto faz. Só queria poder olhar para eles, e só queria que eles me vissem de um certo jeito.
Acho que vou morar na Islândia, ou me alistar na Legião Estrangeira, fazer qualquer coisa pra sair daqui. Ou arranjar um emprego nessa esquina e passar os dias esperando você passar.
Agora você já foi, não tenho mais o que fazer aqui. Ir pra casa, pra guerra, ir até o porto e ir embora em um navio daqueles(Islândia, lembra?), tanto faz agora. Pelo menos ontem baixei um livro do Fernando Pessoa. Posso ler e talvez ele tenha alguma coisa que faça eu me sentir melhor. Alguém disse que era bom estar apaixonado. Esse cara nunca esteve apaixonado, NUNCA. Eu também não sabia o que era isso, mas eu era muito garoto, e agora é diferente. Quem disse que isso é bom não entendeu nada do assunto.
Eu era um garoto normal, com uma vida normal. E ai aconteceu isso. Tanto que bebi um Jack Daniels e um Red Label pela primeira vez sozinho e acordei no pátio da minha casa, com uma dor de cabeça horrível, achando o mundo um péssimo lugar. Tudo isso por você, que nem sabe que eu existo.